Procuro no livro da memória todos os pedaços, todas as lembranças, todos os gestos, todos os abraços que guardei teus, mas agora todas essas pequenas e doces coisas se perderam e eu fecho os olhos e com a força do desejo tento encontrar, juntar e recuperar tudo, mas quando os volto a abrir vejo que não passa tudo de uma ilusão. Como todas aquelas coisas, eu tambem me perdi. Estou agora no deserto, a desejar que fique tudo bem ou simplesmente que estejas aqui comigo, mas desejar isso é como desejar que chova enquanto eu permaneco aqui, no deserto.
Agora só me restam estas palavras que me ocupam a alma. A vontade de por tudo no lugar certo é muita mas a magoa consegue ser ainda maior.
Não me arrependo de nada do que te disse porque apenas fui sincera e disse como me sentia. Se não sabes lidar com isso tens de aprender, tal como eu aprendi a por certas coisas de lado para te fazer sentir bem. Não culpes a distância porque a culpa é a nossa. Não devia ser a nossa amizade a acompanhar-nos, a nós e á nossa mudança mas sim nós a acompanhar a nossa amizade, e juntas, a nossa mudança. Se aqui alguém é culpado somos nós, não eu, nem tu, nem a distância, apenas nós. Não consigo perceber o que és para mim, podes até não ser a melhor amiga que á tempos o eras, mas és concerteza o melhor capitulo do meu livro da memória, o melhor de mim.
Sinto-me em grande parte magoada. Magoada pelo facto de não fazer-mos nada por nós. A bomba relógio já explodiu á muito tempo, agora de bomba passamos a pó, solto no ar, pedindo desalmadamente e em segredo para que toda esta tempestade pare e nos voltemos a unir. Sinto também que em grande parte a distância nos serve de desculpa para tudo aquilo em que nos tornamos mas isso agora não interessa. Agora vou continuar no deserto, que a cada dia me sufoca mais e mais, sinto que parei no tempo mas talvez seja isso que me faça respirar, por muito pouco tempo que seja. Esta carta pode ser só mais uma, mas acredita que foi a que mais me custou a escrever, e cada palavra aqui deliniada representa lágrima por lágrima, grito por grito da minha alma. Vou entrega-la ao vento, para que ela lhe tome o rumo. Se o rumo que ela tomar fores tu, tenho a certeza que irás saber o que fazer, que me irás perceber agora como nunca me percebes-te, que me irás a dar a mão. Mas se o rumo for outro então só me resta esperar e aprender a viver contigo apenas em mim, na minha memória e continuar, ao fim de contas o tempo cura tudo e parar não é opção e agora eu sei que este foi o nosso fim e no fundo sempre o soube, mas o meu coração sempre o escondeu cá dentro. A minha cabeça está caótica e o meu coração em grande parte partido, pode ter sido o nosso fim mas não foi o meu fim. E por isso vou ficar á espera.. talvez seja á tua ou simplesmente que o tempo passe. Por agora, descubro, aqui, no deserto todos os caminhos, todos os destinos. De nós não há vestigios mas eu um dia vou-nos encontrar.
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